terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Marcelo Déda não passou



Outubro de 2014

Há alguns dias estive no gabinete do conselheiro Clóvis Barbosa de Melo e pude avistar, a lhe fazer companhia, uma foto do então governador Marcelo Déda, que me impregnou de boa emoção. Na fotografia, feita em momento de descontração, em ambiente doméstico, ele estava vestido com uma camiseta comum, de cor clara, cabelos meio desalinhados e um sorriso feliz. A sua expressão era de alegria, vitalidade, paz...

A sua aparência era a de uma flor no auge do seu desabrochar. Essa exuberante imagem se sobrepondo àquela que nos foi apresentada, pela mídia, nos seus últimos dias me trouxe, num segundo, muitas outras imagens de sua pessoa antes de seu padecimento. Ao ver a vida pujante e a beleza dos já descritos sentimentos expressos em sua face foi impossível não me comover intimamente e não encher os olhos de ternura e de um misto de alegria e de tristeza.

Esse momentâneo desencontro de sentimentos se deu em virtude da despedida precoce de alguém que ainda tinha mais para nos oferecer e para lhe ser retribuído. Aquela imagem me remeteu ao Marcelo Déda cidadão consciente do seu chamado social, do pai e esposo zelosos, do militante engajado, do amigo sincero, do apreciador do chopinho e da MPB. Daquele homem tão aparentemente comum - mas herói no seu tempo, que acreditou na possibilidade de um mundo melhor para todos e que foi fazer a sua parte e contribuir para tal. Que, num embate final, venceu. Porque não passou nem passará para nós, o povo sergipano.

Alberto Magalhães, funcionário público estadual de Sergipe.



domingo, 20 de janeiro de 2019

O homem em si mesmo


COMO JÁ FOI DITO O HOMEM SEMPRE SE COMPORTOU COMO SE VIVESSE NUM FRACASSO EXISTENCIAL, UM LOGRO EM SUA EXPECTATIVA PERANTE O REAL SENTIDO DA VIDA, OU SEJA, SE QUESTIONANDO INVARIAVELMENTE O PORQUÊ DE ESTAR AQUI, A DUBIEDADE DAS ESCOLHAS E A RAZÃO DA MORTE E SUAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS.

DESDE QUE SE PERCEBEU VIVO MEDITA POR QUE O NÃO PERMANECER VIVO, E ACHA INJUSTO OU INCOMPREENSÍVEL PERDER A VIDA QUE ANIMA O CORPO QUE LHE PERTENCE. SEM MESMO SABER A RAZÃO DE ACHAR QUE A VIDA – COM TODAS AS SUAS IMPLICAÇÕES DESFAVORÁVEIS - É MELHOR QUE A FASE DA NÃO VIDA.

TANTO QUANTO A ESTRADA PÓS-MORTE É DESCONHECIDA PARA OS QUE AINDA NÃO A TRILHARAM O CAMINHO QUE SE TEM PARA PERCORRER AQUI TAMBÉM É TOTALMENTE INCERTO, EM MEIO A PROVÁVEIS EVENTOS INFELIZES - FRUSTRAÇÕES, PERDAS, SOFRIMENTOS - FENÔMENOS REAIS OU IMAGINÁRIOS, FÍSICOS OU PSICOLÓGICOS.

O HOMEM ASSIM, INCONSCIENTEMENTE, SE PRENDE À SUA EXISTÊNCIA DE FORMA ACENTUADA. COMO O NAVIO À DERIVA SE PRENDE AO FUNDO DO MAR RASO PELA ÂNCORA. MAS ISSO ELE NÃO CONSEGUE QUANDO A SUA VIDA (MENTAL) ESTÁ EM “ÁGUAS PROFUNDAS”. ENTÃO ELE SE SENTE À DERIVA AO REDOR DE SI E DENTRO DE SI MESMO.

ELE SE ENTREGA AO SEU CORPO COMO O SEU REFÚGIO PRIMEIRO, O TORNANDO O CENTRO DO SEU EXISTIR E DO UNIVERSO VISUALIZADO, COMO SE NÃO FOSSE APENAS MAIS UM PEQUENINO SER ONDE HABITA A VIDA REINANTE NAS ÁRVORES E PLANTAS, PÁSSAROS, RÉPTEIS E ANFÍBIOS, E EM BILHÕES DE SERES QUE HABITARAM E HABITAM A TERRA.

ALGUNS CHEGAM A AFIRMAR QUE NÃO FORAM CRIADOS, ISTO É, NÃO FORAM FORMADOS POR UMA INTELIGÊNCIA SUPERIOR, MAS AO ACASO DA EVOLUÇÃO, QUE NOS DIVIDIU EM TERRA E ÁGUA - SALGADA E DOCE - E EM FAUNA E FLORA. SURGINDO ASSIM AS ESPÉCIES COMUNS E A INTELIGENTE, O HOMEM, QUE GOVERNA O PLANETA.

O HOMEM SEMPRE VIVEU NA SOMBRA DO MEDO. SEJA DOS GRANDES ANIMAIS QUE O DEVORAVAM, DAS SECAS E ENCHENTES, DAS DOENÇAS, DAS LUTAS POR DISPUTAS DE POSSE OU SOBREVIVÊNCIA, DO MEDO DA MORTE E DOS PERSONAGENS MÍSTICOS QUE ERAM CRIADOS PARA EXPLICAR CERTOS FENÔMENOS INCOMPREENSÍVEIS.

A IDEIA DE DEUS SEMPRE EXISTIU, EMBORA COMO SENDO DE FORMA E ATUAÇÃO VARIADOS. PARA OS GRUPOS MÍSTICOS A FIGURA DE DEUS É A DE UM SER QUE, INVOCADO EM RITUAIS, ATUA POR MEIO DE DIVERSOS SERES INFERIORES A SI E PARA OUTROS É UM DEUS SOBERANO QUE GOVERNA ACIMA DA NATUREZA E DA REALIDADE HUMANA, MAS PRESENTE NESTA.

O PRIMEIRO EXEMPLO DE ESPIRITUALIDADE DERIVA DO ANTIGO ORIENTE PAGÃO E O SEGUNDO DO ORIENTE MÉDIO DE TRADIÇÃO BÍBLICA. TENDO ESTE ÚLTIMO INFLUENCIADO NA RELIGIOSIDADE DOS PAÍSES OCIDENTAIS, AINDA QUE COM MODIFICAÇÕES, DESDE OS PRIMEIROS ANOS DA ERA CRISTÃ. TAMBÉM INFLUENCIANDO OS COSTUMES.

COM NOVO REPERTÓRIO GRUPOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS CONSTITUEM UM SENTIDO EMINENTEMENTE PESSOAL, CENTRADO NO HOMEM, NO INTERESSE DE IMPLANTAR DIRETRIZES MANIPULADORAS DE UMA NOVA RAZÃO DE VIDA: A DO INDIVÍDUO ACIMA DE TUDO: DO IMEDIATISMO, DA REALIZAÇÃO NO CONSUMISMO, DO IDEAL PRAGMÁTICO.

A AÇÃO DESSES NOVOS GRUPOS SE FUNDA NA GRADUAL ANULAÇÃO DAS NARRATIVAS HISTÓRICAS E DA HERANÇA SOCIAL DOGMATIZADA, SOBRETUDO AS RELIGIOSAS. PARA SE LIBERTAR LANÇAM MÃO DA TECNOLOGIA E DO VÁCUO PROVENIENTE DA “FALÊNCIA” DAS INSTITUIÇÕES HUMANAS, OUTRORA GENETRIZ DA “INOCÊNCIA DAS MASSAS”.

NESSES GRUPOS ESTÃO INSERIDOS OS QUE EU CHAMAREI DE INDIVÍDUOS EVOLUÍDOS, QUE REJEITAM AS CHAMADAS VERDADES ESTABELECIDAS NOS ÚLTIMOS SÉCULOS, EXEMPLIFICADAS NO TRABALHO DE UM DOS SEUS TEÓRICOS, FRIEDRICH NIETZSCHE, QUANDO ASSEVERA QUE “NÃO HÁ FATOS, APENAS VERSÕES”:

OS PARTIDÁRIOS DA PÓS-VERDADE DECLARAM QUE ACIMA DOS FATOS OBJETIVOS, PERANTE A OPINIÃO PÚBLICA, PREVALECEM OS “APELOS ÀS EMOÇÕES E ÀS CRENÇAS PESSOAIS. E NA CULTURA POLÍTICA, AO INVÉS DE POLÍTICA PÚBLICA SE PRATICA A POLÍTICA PÓS-FACTUAL. NESSAS SITUAÇÕES A APARÊNCIA DE VERDADE VALE MAIS QUE A PRÓPRIA VERDADE”.

TAMBÉM, NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, GRUPOS RELIGIOSOS DE ORIGEM BÍBLICA PASSARAM A CONSTITUIR UM NOVO FORMATO DENTRO DOS MODELOS TRADICIONAIS RELIGIOSOS, COM ALTERAÇÕES SIGNIFICATIVAS NA RITUALÍSTICA E PRINCIPALMENTE NO SENTIDO TEOLÓGICO, QUAL SEJA: ADAPTANDO A PRÁTICA ESPIRITUAL AO INTERESSE MATERIAL.

NO CONTEXTO ATUAL O INDIVÍDUO EVOLUÍDO ESTÁ PREVALECENDO SOBRE A SOCIEDADE COM RELAÇÃO ÀS CONVENÇÕES ESTABELECIDAS, NOS SEUS PRECEITOS GERAIS. O INDIVÍDUO, COM OUTROS INDIVÍDUOS, CUJAS CARACTERÍSTICAS E AFINIDADES OS TORNAM UM “CORPO” ÚNICO, SE IMPÕE DE FORMA INCISIVA NAS SOCIEDADES QUE ABRIGAM OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA HUMANA.

ESSES MOVIMENTOS SOCIAIS TRAZEM EM SEU BOJO FORTE IMPOSIÇÃO CULTURAL E POLÍTICA DO INDIVÍDUO EVOLUÍDO, AMPLIADO POR MEIO DE REPRODUÇÃO IDEOLÓGICA. E ASSIM, VÁRIOS GRUPOS QUE PERSONIFICAM O INDIVÍDUO EVOLUÍDO, TÊM INCORPORADO NOVOS COSTUMES E PRECEITOS, ELABORANDO UMA NOVA NARRATIVA E COMPROMETENDO AS ANTERIORES.

O HOMEM COMUM TEM HISTORICAMENTE SE REBELADO CONTRA A PERVERSA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, NO ENTANTO ESSE HOMEM EVOLUÍDO QUE SE CONGREGA EM GRUPOS TEM SE INSURGIDO CONTRA TUDO QUE O CERCA. ELE NÃO QUER SÓ COMPOR O SEU ESPAÇO SOCIAL ELE QUER DESINTEGRAR TODOS OS DOGMAS ESTABELECIDOS.

PARA O HOMEM EVOLUÍDO O QUE PREVALECE ESSENCIALMENTE É A EXISTÊNCIA DE SI MESMO, POR SOBRE TUDO QUE SE CONSTRUIU EM CIMA DESSA VERDADE. ELE IMERGIU NO EXISTENCIALISMO, POSTO EM PRÁTICA À BUSCA DE INDEPENDÊNCIA PESSOAL EM OPOSIÇÃO AOS PARÂMETROS IDEOLÓGICOS IMPOSTOS.

TODOS OS INTEGRANTES DO NOSSO PLANETA, COM EXCEÇÃO DO HOMEM, TÊM SEGUNDO SARTRE A SUA TRAJETÓRIA DEFINIDA, ISTO É, PRÉ-DETERMINADA EM SEUS ATOS, EM SEU MODUS VIVENDI. ENQUANTO OS ANIMAIS SÃO CONDICIONADOS A AGIR POR FORÇA DE SUA NATUREZA, TENDO LIBERDADE RESTRITA AOS SEUS INSTINTOS, O HOMEM É LIVRE.

PARA O ANIMAL EXISTEM CONDIÇÕES IMPERIOSAS PARA A SUA SOBREVIVÊNCIA. NISSO INCLUI O CLIMA, A ALIMENTAÇÃO OFERECIDA NAQUELE HABITAT, ETC. ELE ESTÁ SUJEITO A REGRAS, TAIS COMO PERÍODO DE ACORDAR E DE DORMIR, FORÇOSO MODO DE REPRODUÇÃO E IRREVERSÍVEL, POR SI MESMO, LETALIDADE DECORRENTE DE DOENÇAS.

O HOMEM É O CONDUTOR DE SUA VONTADE EM AÇÕES E OMISSÕES. ELE ESCOLHE ONDE MORAR, O QUE VAI COMER, A HORA DE DORMIR, SE VAI TER FILHOS, ETC. ELE ENTÃO VAI SE CONSTITUINDO NO SENTIDO ÉTICO EM OPOSIÇÃO A SUA NATUREZA, FATOR ELEMENTAR NA SUA EXISTÊNCIA, SEMPRE QUE É REGIDO PELA RAZÃO.

NO ENTANTO O HOMEM NÃO PODE ESCOLHER COMO VAI NASCER E MORRER. NÃO DECIDE SOBRE A SUA CONSTITUIÇÃO FÍSICA, O BIOTIPO, A SUA PRÓPRIA APARÊNCIA. COMO TAMBÉM NÃO ESCOLHE SE O SEU TEMPERAMENTO VAI TER PREVALÊNCIA DO FLEUMÁTICO, SANGUÍNEO, MELANCÓLICO OU COLÉRICO.

AS SOCIEDADES TRADICIONAIS, DESDE OS PRIMÓRDIOS, ERIGIRAM UM SISTEMA DE GOVERNANÇA QUE POR UM LADO GARANTE RAZOÁVEL SOBREVIVÊNCIA CIVILIZADA AOS CIDADÃOS E POR OUTRO LADO USA O SEU TRABALHO, IMPRESCINDÍVEL NESSAS COMUNIDADES, LHE CONCEDENDO INSIGNIFICANTE RETRIBUIÇÃO.

OS SISTEMAS QUE FORAM MONTADOS NAS SOCIEDADES TRADICIONAIS, AS MESMAS QUE AGORA SÃO AMEAÇADAS DE SUCUMBIR ANTE A DISPOSIÇÃO DESSES NOVOS GRUPOS, SEMPRE FAVORECERAM CASTAS QUE, SEJA NA INICIATIVA PRIVADA OU NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DOMINARAM AS RIQUEZAS PRODUZIDAS POR TODOS.

O ESPIRITO HUMANO, FONTE DO SER PENSANTE, SEMPRE FOI IMPREGNADO DE DIGNIDADE. NO BRASIL, DESDE OS ÍNDIOS E OS NEGROS ATÉ O ALFERES TIRADENTES NOS DERAM EXEMPLOS DE MOBILIZAÇÃO POR UM IDEAL PERSEGUIDO; A IGUALDADE ENTRE OS SERES HUMANOS, OU SEJA, AS MESMAS CONDIÇÕES DE VIDA EM SOCIEDADE.

NO ENTANTO, A TENSÃO DECORRENTE DAS RELAÇÕES DO POVO COM A CLASSE DOMINANTE SEMPRE FOI RESOLVIDA POR MEIO DA COAÇÃO LEGAL, POR MEIO DAS FORÇAS DE SEGURANÇA OFICIAIS A PRETEXTO DE MANTER A ORDEM SOCIAL A QUALQUER CUSTO. ATÉ COM JESUS, O CRISTO, ESSA TÉCNICA RUDIMENTAR FOI EXERCIDA COM RIGOR.          

NÃO EXISTEM AS SOCIEDADES SEM O HOMEM CIVILIZADO PRESENTE NELAS, SEM O TRABALHADOR QUE EMPRESTA OS SEUS TALENTOS E A SUA FORÇA EM PROL DELAS. AS SOCIEDADES NÃO DEVEM ELIMINAR DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS HOMENS EM SUAS SINGULARIDADES, NEM ESTES SUPRIMIR O CONCEITO DE SOCIEDADE EM PROL DE SI MESMOS.

ALBERTO MAGALHÃES, AUTOR.

domingo, 3 de setembro de 2017

O país que não deu certo



Quando eu vi a seleção brasileira receber sete gols da Alemanha (eu não vi o último gol, do Brasil, porque saí), eu perguntei a mim mesmo, enquanto andava pela minha rua silenciosa: “Porque o Brasil não dá certo?” Ora, o país tinha acabado de gastar bilhões de reais com a construção de arenas esportivas e o plantel canarinho era dos melhores. E recebeu uma goleada humilhante daquelas, em casa. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete gols. A zero. Isso eu constatei com esses olhos estupefatos. O que veio depois não importa mais para mim, eu nem sequer vi. O que ficou gravado foi o que os meus olhos viram. Lembrei-me de Aírton Sena, o nosso campeão imbatível nas pistas, e a sua morte precoce. Lembrei-me do nosso ídolo mundial Pelé e a indignidade que ele praticou contra a sua filha, rejeitada por ele até a hora da sua morte (para que serviria os nossos heróis se não fosse para nos fazer melhores?). Roberto Carlos, que tão bem canta o amor, não é feliz nele. Fernando Collor, “o caçador de marajás”, o primeiro presidente eleito depois de duas décadas do regime de exceção, e o confisco da poupança dos trabalhadores brasileiros pelo seu governo demente e, depois, o impeachment. A fatalidade acontecida com Tancredo Neves, símbolo da redemocratização brasileira. A fatalidade com o nosso Sérgio Vieira de Melo, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, benfeitor da humanidade e forte candidato à Secretário-Geral, morto num atentado com um caminhão-bomba na sede da ONU em Bagdá. A sempre frustrante expectativa da Igreja Católica brasileira em ver um cardeal brasileiro dirigir o Vaticano. A vitrine brasileira, Rio de janeiro, a cidade maravilhosa, submergida na guerra causada pelas drogas. A Amazônia arrasada pelos mercenários. O Rio São Francisco explorado e abandonado. A proposta do brilhante pensador e educador Paulo Freira relegada ao esquecimento. A nossa música entrou em estado de letargia. A boa música parou nos anos oitenta do século passado. A espontaneidade da vida social ficou prejudicada pela alta criminalidade urbana. O espírito de felicidade ingênua deu lugar a realidade. Políticos em baixa. Não há no cenário nacional mais lideres, pelo menos não há quem preste para ser exemplo, modelo para os mais novos. Nossa juventude, outrora futuro brilhante da nação, mergulhada na mediocridade atual, seduzidos pela vulgaridade e baixa qualidade predominantes na moda, na música e em outros segmentos sociais. Essa geração não produz pessoas como Anita Garibaldi, Tiradentes, Deodoro da Fonseca, Zumbi dos Palmares, Princesa Isabel, Ruy Barbosa, Cora Coralina, Sílvio Santos, Chico Mendes... O sonho acabou. Ao menos social e culturalmente. Mas, como disse algum romântico pensador, a esperança não morre. Os sonhos podem renascer das cinzas, como uma fênix tupiniquim.

Lutar é andar sobre pedras. Quem abre caminhos corre os riscos das cobras. Mas é aos pés dos que vão à frente que as borboletas se levantam”. Juscelino Kubitschek

Alberto Magalhães

A justiça e Nietzsche



Justiça não é só um conceito abstrato que norteia a religião, a moral, a ética e o direito. Justiça é princípio soberano nas relações interpessoais e sociais, em verdade, universais. Justiça genuína tem sintonia com a liberdade, a razoabilidade, a impessoalidade. Ela precede à religião, à moral, à legalidade e ao Estado Democrático de Direito. Estes segmentos a buscam, no entanto só a apreendem em parte. A questão que dificulta o entendimento dessa constatação é que a compreensão de justiça é permeada por uma visão própria desse conceito, que, por vezes, sofre influência de culturas, épocas, de interesses pessoais ou de convicções religiosas ou filosóficas. Também, Justiça não é algo imbuído de bondade, necessariamente. Se o policial prende um malfeitor em ato de flagrante delito não proporciona algo de bom para o delinquente punido. No entanto lhe fez justiça, já que injustiça seria lhe prender sem que ele houvesse dado fundamento para a ação coercitiva.

A justiça original vive na efetiva liberdade, a justiça derivada subsiste na imposição. Justiça original se impõe, não é imposta pelo homem. Exemplo é a velhice do corpo físico, após os anos que se passaram. Outro é o desamor de quem foi continuamente maltratado por quem amava, ou o esgotamento dos recursos naturais pelo desgaste excessivo praticado pelo homem. A lei humana - bem como a divina, determinada aos homens - nasceu da necessidade de se fazer um esboço instrutivo normativo, para os “insensíveis” ou desinteressados, da justiça original, universal. A noção preponderante de justiça nas sociedades é baseada na posse, seja na área material ou na moral, a saber: nas infrações contra o patrimônio, integridade física, honra e imagem. A justiça original transcende esses elementos primários e projeta-se no espírito e em outras dimensões. Quando foram criados os preceitos na elaboração do direito consuetudinário ou normativo é porque já havia a existência dos princípios gerais do direito - conteúdo da justiça - no conhecimento inato humano.

A lídima justiça também não é realizada pelo homem. O ato de justiça praticado pelo homem é reflexo da justiça original, essência geradora, universal, impessoal da JUSTIÇA. Já a justiça perpetrada pelo homem tem a característica pessoal, individualista. Mesmo que em prol da coletividade. Justiça é ato de amor, não de bondade. Quando se castiga o filho pelo seu bem não se está sendo exatamente bom, mas justo. Embora essa justiça nasça do amor. Mas que amor é esse que se faz justiça contra quem se ama? Será esse o verdadeiro amor? A justiça pelo amor? Vingança decorre do desamor. E o que é o ódio a não ser a falta de amor? Seria, então, a vingança ato de injustiça? A injustiça pelo desamor? Pode ser essa a explicação para a nossa estada aqui nesse planeta, o sentido da vida terrena. Estaríamos na sala do aprendizado espiritual, laboratório das experiências metafísicas? O nosso professor seria o criador de toda essa engrenagem fascinante que nos desafia a evoluir sempre?

Nietzsche, que se mostrava ateu, disse que “é uma barbárie o amor a só uma pessoa, mesmo a Deus”. Se verdadeiro que o amor vem pela justiça, não seria justo que amássemos o pai da justiça, que nos alcançou por meio dela, não nos atingindo com a vingança do desamor? É notório que a nossa realidade é sedimentada na dualidade - que se afirmam, ou seja, uma revela a outra: vida, morte; luz, trevas; terra, água; matéria, espírito; saúde, doença; calor, frio; bem, mal... Sabemos que o corpo físico é regido pela mente, a família pelo pai, a sala de aula pelo professor, a escola pelo diretor, a cidade pelo prefeito, o estado pelo governador, o país pelo presidente, nosso sistema planetário pelo sol... numa cadeia que funciona em sintonia permanente. Não seria mais racional pensar que nesse sistema maravilhoso existe um condutor que o rege com maestria? E como a mente de um homem compreenderia um ser assim somente pelo pensamento? Mediante a observação e conjecturas? E como se pode provar a inexistência de algo que está fora do nosso alcance? De algo que não é visível, como pretendeu Nietzsche fazer?

Sempre será mais fácil se provar a existência do que existe e não é conhecido. O interessante é que a experiência espiritual é conhecida por muitos e é fervorosamente contestada pelos céticos que alegam influências meramente psíquicas para a explicarem. A lógica da razão jamais poderá explicar a fé ou anulá-la. Elas são dualidades que se afirmam e se completam. Mas isso para os bem intencionados. A humanidade traz consigo a dualidade de pertencer ao todo e de ser um. Individualidade versus coletividade. Individualidade com a sua liberdade de escolha e decisão - o chamado livre arbítrio - e a imensa solidão que a liberdade lhe traz, com as suas dúvidas atrozes. Nietzsche preferiu isso: a paz da negação de Deus à dúvida “incomodadora” da Sua existência, decorrente da oscilação da sua anterior e condicionada fé. Por isso ele se empenhava tanto em se convencer da tolice que era crer num ser superior e invisível aos nossos olhos. Morreu Nietzsche, em pouca idade, infeliz e doente.
Fonte de pesquisa: wikipedia.org

Alberto Magalhães

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Romanos, gregos e brasileiros


Catão, o velho ou Priscus (Marcius Porcius Cato / Túsculo, 234 a.C – Roma 149 a.C), político romano de ascendência latina e eloquente orador, que galgou as funções de tribuno, questor, pretor, cônsul  e censor. Catão, austero na administração pública, fez história como pretor na conquista da Sardenha: “Reduziu os custos das operações navais, caminhou através da sua província em companhia de um único assistente e pôs de relevo o forte contraste entre o seu austero modo de vida e a suntuosidade com que viviam os magistrados provinciais de classe ordinária. Os ritos religiosos celebraram-se com razoável poupança, a justiça administrou-se com razoável imparcialidade, a usura foi perseguida e desterrados os que a praticavam” e como censor, em Roma: “Reparou os aquedutos, limpou os esgotos, previu o uso privado das águas públicas, ordenou a demolição das casas que estreitavam as vias públicas e construiu a primeira basílica no Fórum Romano, perto da Cúria. Elevou também a quantidade, entregue pelos publicanos, pelos direitos de arrecadação de impostos, e ao mesmo tempo diminuiu os preços dos contratos para a construção de obras públicas.”

Catão, o jovem ou Catão de Útica (Marcius Porcius Cato Urticensis / Roma 95 a.C. – Ùtica 46 a.C., bisneto de Catão, o velho), cidadão disciplinado, notável defensor das liberdades individuais e políticas, era moralmente íntegro e inflexível na honestidade. Foi eleito questor, algo semelhante a um supervisor de tributos nos dias atuais. Avesso ao suborno ele divulgou as ações de antigos questores, que haviam se apropriado, ou feito uso indevido, dos recursos públicos. Era opositor do governante Júlio César e considerado a antítese deste. Goodman e Soni escreveram: “Poucos líderes colocaram a ambição de forma tão claramente à serviço dos princípios. Estas foram as qualidades que separaram Catão de seus contemporâneos – e que fizeram com que ele fosse lembrado na posteridade.” Ele foi levado ao suicídio por causa de suas posições políticas.

Sócrates, “o patrono da filosofia”, nunca se conformou com as ideias estabelecidas, com os conceitos inquestionados e com as crenças impostas culturalmente. Por causa disso ele foi condenado à morte, obrigado a beber o veneno cicuta. “O que é isso?” Era o questionamento dele para o que se acreditava, se fazia e se dizia. Era um modo revolucionário de se lidar com tudo o que nos cerca ou nos move intimamente, de reinterpretar todas as coisas. No pensar em que as coisas estão sempre num estado de vir a ser, de Heráclito. A se definir no ser, de Parmênides. A se impor num ciclo permanente de mutabilidade do que é, conforme Aristóteles. A mudança só ocorre para melhor. Para o pior é estagnação, involução ou retrocesso. Psicologicamente, culturalmente, socialmente, materialmente.

Sócrates disse que a sua mãe era parteira de corpos, ele de almas, quando estas buscavam a verdade por sobre (ou sob) as aparências. Nas sociedades são criadas fórmulas que mascaram formalmente a funcionalidade das convenções sociais, em nome da conveniência social, dos grupos familiares, institucionais, políticos e político-partidários. E a nossa própria mente nos engana para uma letargia na renovação das coisas necessárias. Sobre isso revisitei Charbonneau, em sua intrigante e instigante observação: “A razão é oscilante, é bela e ao mesmo tempo perniciosa, porque tem o privilégio de enganar, de mentir, de iludir, de fazer o homem se perder no Dédalo de uma consciência falsa. Ela balança entre a revelação e o disfarce.” No Brasil, em sua totalidade, há resistências no despertar para se construir em cada lugar, principalmente no público, um novo modo de ser, a partir do que é ou do que está sendo, para reverter esse marasmo ideológico, cultural, institucional, familiar, social... Ainda há tempo.

Fonte de pesquisa e citações: Wikipédia.

Alberto Magalhães 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Discurso no TCE sergipano


Por Alberto Magalhães*

O discurso de posse do conselheiro Clóvis Barbosa, na presidência do TCE sergipano, iniciou assim: “Quem somos? O que fazemos? Para onde vamos? Quem nos move? Estas são perguntas cujas respostas estamos procurando desde a antiguidade. Os filósofos, através do tempo, têm dado explicações, mas, infelizmente, quando olhamos, não vemos, e quando vemos, não reparamos. Em pleno século XXI continuamos no mesmo lugar: impotentes diante do absurdo do mundo e da barbárie cada vez mais injustificada.” Disse que o filósofo Kierkegaard falou que a sociedade em geral estava contaminada pela condescendência e hipocrisia, chegando Kierkegaard a dizer: ‘com um rosto eu rio e com o outro eu choro’.

Clóvis Barbosa citou a máxima de Albert Einstein: ‘Só duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana, mas não estou seguro sobre a primeira.’ Disse que o homem veste a couraça da vaidade e da arrogância e ainda tenta se justificar com a célebre frase: ‘errar é humano’. Disse que esse homem não assimila os bons ensinamentos optando quase sempre pela mediocridade. Isso por não dar ouvidos ou ouvir mal, incorporando maus sentimentos cotidianamente. E, por força do egoísmo, vive sempre esperando compensações, defensor ferrenho dos seus privilégios. Disse ainda que tais pessoas são sabem perdoar e exercer a autocrítica, se sentem vítimas de outros e se tornam injustos e mesquinhos.

O orador citou a luta do bom combate do apóstolo Paulo de Tarso: “despertar as consciências e libertar o homem do egoísmo, da vaidade e de ganância.” Disse que em A Arte da Prudência, Gracian acentua que ‘a vida humana é uma luta contra a malícia do próprio homem (...) conhecimento sem bom senso é dupla loucura.’ Enfatizou que a insensatez, presente em todas as classes sociais, vicia a alma e destrói sonhos e que a fraternidade resume todos os deveres dos homens entre si; que a fraternidade é oposta ao cada um por si e é condição essencial à igualdade e liberdade. Salientou que este último atributo é resultante dos dois primeiros e que no limiar de novo ano o façamos caminho para verdadeiro progresso humano.

No âmbito da gestão pública falou no “respeito aos princípios constitucionais da legalidade, moralidade, publicidade e impessoalidade, e que o Estado esteja voltado para a consecução do seu objetivo maior, o bem de todos, através da construção de uma sociedade livre, justa e solidária; e para a garantia do desenvolvimento nacional, erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais e regionais.” Disse que a corrupção contribui para a desigualdade social e para a violência urbana, devendo ser a honestidade a regra. Ressaltou que a legislação anticorrupção vem sendo aprimorada, combinada com a combatente militância de jovens magistrados, promotores e procuradores de justiça e delegados de polícia.

Concluiu que a accountability, nas modalidades administrativa e política, é o enquadramento da vontade pessoal do gestor público ao querer abstrato da lei, para a devida prestação de contas nos parâmetros legais, pois que “nada, num Estado democrático de direito pode vir à tona ao arrepio das leis legitimamente postas pelo parlamento.” Que se os gastos não forem expressamente autorizados por lei não poderá ser autorizado. “O que for além disso é despotismo, macula a legalidade, emascula a moralidade e defenestra a eficiência das ações públicas (...) o tribunal de contas precisa alçar voos estratégicos em direção à filosofia pluralista sedimentada com o advento da Constituição libertária de 1988.”



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Soldados da pátria subtraída



Alberto Magalhães*

O Tribunal de Contas do estado de Sergipe já foi chamado de tribunal faz de conta. Hoje não é mais chamado assim. Se era isso ou não, eu não sei. O que importa agora é que o vemos mais diligente, mais fiscalizador dos recursos públicos. O TCE tem mostrado ao povo sergipano que atua de fato. Bravo! O advogado e ensaísta Clóvis Barbosa de Melo, junto a outros recém-chegados àquela corte, tem notadamente contribuído para tal resultado. Contas de prefeituras e de órgãos públicos estaduais têm sido rejeitadas, funcionários públicos desmascarados em suas ações irregulares e o dinheiro dos cofres públicos mais preservados do uso ilegal.

Em virtude do sistema de rodízio acontecido a cada dois anos, pela ordem de nomeação no cargo de conselheiro, o mais antigo é empossado na presidência daquele órgão. Quem preenche esse requisito para o biênio 2016/2017 é o conselheiro Clóvis Barbosa. Acontecimento, inclusive, esperado por diversos segmentos da sociedade sergipana. Para nós é uma notícia alvissareira, vez que Clóvis Barbosa, durante a sua trajetória profissional e pessoal, tem demonstrado capacidade técnica, idoneidade moral, sensibilidade humana e altruísmo social. Seja na presidência da OAB/SE, nos cargos que exerceu na UFS, na PMA, ou no Governo do Estado de Sergipe.

Novos tempos sempre requerem novos modelos, inovadores paradigmas, desprendimento do habitual para a seara do desbravamento, de enfrentamento do que ficou como óbice ao pleno desenvolvimento pretendido. Há homens fabricados pelos sistemas e há homens que reformulam os modelos gerados dos tais para melhor, a bem da sociedade que o cerca. Clóvis Barbosa não é o salvador da pátria. Apenas é um soldado da pátria subtraída, perseverante num campo de batalha desolado...

*Alberto Magalhães é funcionário público do estado de Sergipe.



quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Serviço público brasileiro


Alberto Magalhães*

No Brasil o Estado não funciona a contento para a população no que se refere aos serviços essenciais prestados. Quando os serviços públicos oferecidos são criticados por ampla maioria dos seus usuários, são notoriamente deficientes. Por exemplo, quando um estado (Sergipe) tem apenas uma base do IML ou apenas um estruturado hospital de urgências, para atender todo o seu território, ou uma delegacia de Polícia de plantão para atender toda a grande Aracaju, quando vemos os significativos dados sobre reprovação e evasão escolar e que nunca impede os diversos desvios de recursos públicos percebemos que o Estado, ente governamental, está lento no estado de Sergipe. A polícia civil diminuiu muito o seu contingente, reduzindo o seu alcance investigativo. A carreira foi estagnada, os salários arrochados.

A Polícia é eficiente? Sim, é. E os médicos, os enfermeiros? Também o são. Mas só para aqueles a quem eles conseguem assistir. E quanto aos outros que o Estado não alcança? Aqueles que são assaltados em todos os lugares, que morrem nas ruas ou nos hospitais, vítimas das diversas formas de violência praticadas nas cidades e no campo, sem assistência adequada? Então se torna o Estado um ente relapso, negligente. No momento do deslinde favorável ao cidadão vítima é o policial naquela ação eficiente, não o Estado. Porque naquele mesmo momento tantos outros cidadãos sucumbem sem a assistência necessária. Seja pelo atraso da viatura do SAMU, a não chegada – ou a excessiva demora - da viatura da polícia, até a cirurgia procrastinada ao limite.

O serviço público é o Estado em ação. O alcance e a efetividade dessa ação vai dizer que Estado é esse. Ágil, suficiente? Mediano (razoável para uns e prevaricador para outros)? Ou letárgico, doente das pernas? Cada um defende seu partido político, seus padrinhos, ou seja, os interesses próprios. É tão indecente quando um político defende uma atitude indecorosa de seu governo e antes criticava essas mesmas atitudes ou quando tenta convencer o povo do inconcebível a fim de desempenhar a sua mesquinha função. E o que dizer do Estado que enriquece alguns dos seus integrantes com os recursos públicos? Se a democracia é o melhor regime para se administrar a nação brasileira, o modelo de governo adotado está longe de ser o melhor para o seu povo.

Sergipe se insere no contexto nacional no que se refere ao alto índice de criminalidade que assusta a todos. Mas essa questão transcende aos órgãos de segurança, já que os mesmos não têm os meios para reabilitar a sociedade para a qual presta os seus serviços. A sua função principal é reprimir, embora tenha atribuições preventivas de muito vaga efetividade. Aos governantes cabe o dever inalienável de coibir a criminalidade eliminando os focos da doença chamada injustiça social (por meio da perversa distribuição de renda), que gera uma parcela de infratores. A falta de políticas públicas eficientes deteriora a sociedade e enfraquece os órgãos de segurança, já debilitados, pois cria uma demanda que a estrutura policial não consegue alcançar.



*Alberto Magalhães é Agente da SSP de Sergipe.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Identidade de gênero


Alberto Magalhães*

A escritora Lya Luft, uma das mais lúcidas e românticas escritoras dos tempos atuais, escreveu que “A infância é o chão sobre o qual caminharemos o resto de nossos dias”. Pensando assim, eu gostaria de escrever algo – de impressão bastante pessoal - sobre um tema em voga nos dias atuais: a chamada identidade (ou ideologia) de gênero. Essa teoria supõe que o bebê não nasce nem menino nem menina; que intimamente ele não tem nem a natureza masculina nem feminina de forma decisiva. Apesar da genitália que ostenta não é João nem Maria (Interessante seria inicialmente pôr nele, sempre, o nome de Joma, acrescentando apenas o sobrenome dos familiares até ele decidir o que quererá ser). Segundo esses “iluminados” teóricos os conceitos homem e mulher são uma construção social e nós - pais e mães – devemos ser neutros com relação ao sexo do nosso filho. Mesmo que nasça com uma vagina ou com um pênis. Ele que decidirá o que quer ser quando se tornar “capaz”. Mas isso retroativamente ao dia do seu nascimento, quando nem sabia que era gente. Desde o início não devemos criá-lo como macho ou fêmea para não influenciá-lo. Isso seria preconceito sexual, repressão abominável.

Felizmente, hoje, não convivemos mais com a educação repressora que tolhia tanto as inclinações pessoais heterodoxas chegando a adoecer a algumas pessoas “diferentes”, por isso não há mais justificativas para radicalismos sociais como o dessa teoria. Portanto, penso que se uma criança não tiver caminhos sinalizados a seguir, propostas pertinentes a examinar e formação familiar satisfatória ela nunca saberá exatamente o que deverá ser. Sem uma boa base, o alicerce psicológico, ela não poderá construir nada sólido. Sem um argumento definido não poderá construir algo coerente com o seu livre pensar, mesmo que antagônico àquele argumento de sua educação elementar. Ela deve ter a condição de ser e também a de não ser - com convicção - alguém fora do comum. É imprescindível o respeito nas relações pessoais, familiares, institucionais e sociais, mas para isso não precisa desmoralizar ou anular estas para melhorá-las.

*Alberto Magalhães é funcionário público do estado de Sergipe.


quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A desordem social no Brasil

QUAIS AS CAUSAS DA DESORDEM SOCIAL NO BRASIL?

Basicamente, na cultura adquirida na formação da nossa sociedade no período da colonização portuguesa e no sistema educacional precário oferecido nos cinco séculos da nossa história. A colonização do Brasil, ou seja, a formação do povo brasileiro se deu com pessoas desqualificadas nas letras, excluídas das decisões e alienadas do processo histórico: os criminosos e vagabundos degredados de Portugal, os negros camponeses trazidos da África e tornados escravos e os nativos “índios”. Os portugueses “nobres” formariam a classe dominante com sua elite intelectual e social influenciando a prevalência do domínio econômico e político nas mãos de poucos. Os privilegiados desse período e dos que se seguiram monopolizariam os bens da nação: as terras, o conhecimento, o poder político consolidando sua supremacia social. Aos demais seriam ofertadas as condições básicas de sobrevivência. Para estes, então, não havia o pensamento da ascensão social. O próprio sistema engendrado não facultava aos integrantes do povo tal perspectiva. Essa deletéria construção social atrasou a nação brasileira até aos dias atuais, prejudicando o nosso crescimento em todas as áreas. A globalização agora traz demandas que o país não consegue suprir, instâncias que não consegue acompanhar. Nem mesmo na qualificação profissional do cidadão da base social. A globalização econômica dissemina a cultura do consumismo e enseja o aumento da oferta desses bens. Daí vem também o aumento da criminalidade nos países em desenvolvimento que não possuem adequada estrutura educacional e profissionalizante para garantir uma remuneração satisfatória para os jovens e/ou para os seus provedores. Muitas vezes nem mesmo qualquer emprego. Estamos há décadas atrasados em áreas como educação escolar, capacitação profissional e adequada distribuição de renda.

HÁ OUTROS FATORES PARA OS ATUAIS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE?

Sim. O avanço das drogas e a corrupção. Não sabem os políticos e os gestores desonestos, ou não querem saber, o mal que fazem a toda a sociedade - incluindo eles e seus familiares - quando se apossam do dinheiro público ou desviam inescrupulosamente a sua função social. Os traficantes de drogas e os homens públicos desonestos são os atuais pais dos delinquentes. Eles os geram. O sistema perverso implantado no Brasil nos primeiros séculos fez dos mandatários pessoas ricas, cultas, poderosas e fez o povo pobre, inculto e alijado do poder político efetivo já que os cargos públicos – com militância corporativa - eram reservados aos componentes dos grupos que detinham o poder econômico. Todos os desonestos integrantes dos governos - nas três esferas – desde o século passado impediram que a injustiça social histórica fosse suplantada e as pessoas do povo prosperassem significativamente em todos os campos sociais.

QUAL O PAPEL DA POLÍCIA NA QUESTÃO DO AUMENTO DA CRIMINALIDADE?

Em decorrência da formação da sociedade separando-a em duas classes distintas, sendo a primeira a das posses e das prerrogativas e a segunda a do trabalho e dos deveres.Sendo esta “marginalizada” com relação àquela e sem perspectiva de ascensão, o heroi nacional passou a ser o “malandro” bem sucedido, aquele que conseguia “driblar” as barreiras impostas e, mesmo transgredindo regras, conseguia ascender economicamente. Num estado intermediário entre o pobre, trabalhador, poviléu e o rico, patrão, nobre. Com o passar do tempo, isso tomou outras proporções no sentimento nacional. Lembro-me que há pouco as pessoas celebravam com entusiasmo a figura de Virgulino Ferreira, o "Lampião” que enfrentou o “sistema nefasto”, admiravam o bandido carioca Lúcio Flávio “o passageiro da agonia” e vibravam com o poderio do narcotraficante colombiano Pablo Escobar. Na história do Brasil os únicos membros do povo que chegavam a integrar as esferas – baixas e medianas – do poder eram os que seguiam a carreira militar. Mas, só para servir ao poder, ao Estado manipulado pelo grupo seleto “de cima”, não ao povo. Preservando o statu quo ante. Quando os militares brasileiros assumiram a administração do Estado afastando o governo civil, passou a sofrer a ojeriza da população, já que o seu objetivo não foi o de legitimar o povo, emancipando-o no processo da supremacia democrática. O objetivo do golpe militar foi eminentemente conservador: visava garantir a continuação do regime historicamente estabelecido por uma casta social que temia os movimentos de base que prometiam “libertar” o povo da histórica tirania dos fomentadores da estratificação social. A inspiração para o golpe foi essencialmente ideológico, como se o Exército fosse um partido político. A farda, como símbolo visível da repressão política no imaginário popular, ficou marcado no inconsciente coletivo como instrumento opressivo usado para a cassação da liberdade social e de cerceamento da expressão pessoal. As Polícias sedimentam o trauma do arbítrio estatal. A farda das polícias militares é, de certa forma, repudiada por pessoas do povo. Os conflitos que assistimos entre policiais militares e membros da sociedade civil são um retrato dessa animosidade. A polícia é o braço armado do Estado, obedece às autoridades e não aos membros do povo.É, sobretudo, um instrumento de controle social, de intimidação e inibição dos atos irregulares dos cidadãos comuns, não só de criminosos. A farda, quase sempre, torna o seu usuário prepotente e isso incomoda o cidadão contribuinte e esclarecido. Também há um equívoco histórico na formação das polícias no Brasil. O policiamento ostensivo deve ser municipalizado, com o chefe de polícia local eleito pelo povo. A polícia ostensiva deve ser uma polícia de guarda municipal uniformizada para fazer rondas ostensivo-preventivas. Os municípios não precisam dessa grande cadeia de comando semelhante ao das forças armadas. Foi um equívoco fazer do policiamento ostensivo/preventivo urbano força auxiliar do EB. Já a Polícia Estadual abrigaria os departamentos especializados, de investigação, os grupos táticos e de operações. Tornando as atuais Polícia Militar e a Civil uma só polícia estadual. Com uma só cadeia de comando.

AS ATUAIS POLÍCIA MILITAR E CIVIL NÃO FAZEM BEM O SEU PAPEL?

De modo algum. Nos moldes atuais a PM tem uma estrutura pesada, arcaica, obsoleta e onerosa nos quartéis para colocar pequenas equipes nas ruas a fim de exercerem a atividade fim. Deve haver mais equipes nas ruas e muito menos da atual estrutura nas bases de direção, com seus gabinetes equipados, viaturas administrativas e auxiliares policiais fora da atividade fim. A Polícia Civil também foi mal planejada no Brasil. Delegado de Polícia não é um cargo da justiça para estar num gabinete e se restringir ao serviço de definição do tipo penal da ocorrência, ordenação de instauração de procedimento penal e elaboração de relatório do que já está contido nos autos e vai ser objeto de estudo do Promotor Público. Isso faz da PC uma instituição eminentemente cartorária, burocrática, “semiprocessual” quando deve ser efetivamente investigativa. A PC não é uma sucursal do poder judiciário. Ela é, na sua função, independente, autônoma. Na maioria das ocorrências a PM não consegue prender em flagrante o autor de delitos e depois a PC não consegue identificar boa parte deles. Para serem mais céleres e eficientes as delegacias precisam de várias equipes de investigação comandadas por inspetores nomeados por mérito, a fim de que incentive o agente a almejar o posto e para acompanhar a atuação deste nas ruas. Coisa que os delegados no modelo atual não têm como fazê-lo. O delegado pode ser apenas um gestor que coordena os setores de investigação, os escrivães e o pessoal do expediente (que deve ser funcionário comum, não policial recebendo alto salário para atuar fora das suas atribuições reais). Depois de enviado o procedimento investigativo ao poder judiciário deveria apenas o representante do MP tipificar o crime quando do oferecimento da denúncia, sem a polícia se imiscuir na esfera processual. Aqui em Sergipe a investigação só é efetiva no Denarc, no DHPP e no COPE. O Brasil ainda está emperrado nos trilhos da malfadada colonização portuguesa.

De CARLOS ALBERTO MAGALHÃES, funcionário público do estado de Sergipe e presidente do Centro de Estudos e Ação para o Progresso Humano e Social – CEAPHS, publicada no Jornal da Cidade em 29 de abril de 2015, caderno B, pag. 06.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Meu irmão Déda: Etnia, idioma e similitude.



Clóvis Barbosa*


Não queria me despedir de Déda. Ficaria em casa naquela segunda-feira. O traslado do seu corpo já havia sido feito, e ele estava sendo homenageado pelo povo e autoridades, inclusive a presidente da república, no prédio que ele mandou restaurar, o Palácio Olímpio Campos. Um filme passou pela minha mente. As imagens surgiam como se estivéssemos voltando a trilhar os mesmos caminhos andados em 37 anos de amizade, forjada no amor e nas divergências. Muito carinho de um pelo outro, mas brigas também. Tudo começou no Colégio Atheneu, onde fui dar um curso de história do cinema ao lado de Nilo Jaguar, Djaldino Moreno, Alberto Carvalho e Antônio Jacintho Filho, onde quatro meninos mostraram interesse pelo curso, Déda, Oliveira Júnior, Aragão e Evandro Curvello, quarteto que só andava junto e partilhava dos mesmos interesses culturais. Depois, veio a política, no PT e nos movimentos sociais, a advocacia, no início de sua carreira, a noite, no Baixo Barão, Scooby-Doo, Bar do Vinícius, Gosto Gostoso e tantos outros. De 1990 a 1996, ficamos de mal, embora em 1994 ele recebesse o meu voto, da minha família e amigos na sua candidatura vitoriosa a Deputado Federal. Não nos falávamos. Mas eu sempre falava dele, e ele de mim para amigos comuns.

A noite chegava e minha angústia aumentava cada vez mais. Não, eu tenho que ir ao Palácio Olímpio Campos. Eu tenho que vê-lo pela última vez. Olho seu rosto, dou-lhe um beijo e volto para casa. Uma multidão na praça. Consigo entrar pelos fundos e subo, cambaleante, a escadaria até a sala onde o seu corpo estava estendido. Ao vê-lo, a emoção tomou conta de mim. Choro bastante. Recomponho-me e passo a imaginar o cenário criado pelo poema de Walt Whitman, O Captain! My Captain. Subverto o texto e passo a me exprimir em voz baixa: - Sobre o deque meu capitão jaz, frio e morto tombado, enquanto lá fora as bandeiras do PT tremulam. Pedi-lhe: - Ergue-te, Ó capitão! Meu capitão! A nossa viagem ainda não está finda, Ó capitão! Meu capitão! Ergue-te e ouve os sinos; ergue-te - o clarim garganteia, por ti buquês e grinaldas engalanadas - por ti eles chamam, a massa oscilante volta-lhe suas faces ansiosas; eis capitão! Querido amigo! Este braço sob sua cabeça colocado! - Meu capitão não responde, seus lábios estão pálidos e silentes,
Meu querido amigo não sente meu braço, não tem pulso, a vontade ausente.

Lembrei-me do seu aniversário de 50 anos. Fiz um artigo com o mesmo título do poema de Walt Whitman. Ali, eu perquiria que fatores identificariam os homens, a ponto de uni-los mediante laços de afeto? O que levaria alguém a não medir sacrifícios por um amigo e, até mesmo, a definir outrem como tal? Por que nós nos ajuntamos em bandos, grupos, partidos ou tribos, projetando marcas que nos distinguem de outros, em face dos quais não encontraríamos afinidade? Após filtrar, com rigor, ideias que deixei fluir com naturalidade, creio ter chegado a uma razoável conclusão. Segundo elas, três seriam os ingredientes que imantariam os indivíduos, irmanando-os e fazendo deles emergir uma mesma frequência, na forma de acordo com a qual captariam a sonoridade do mundo, ou no modo de enxergar as aflições que nosso coração faz ecoar pelas curvas da vida. Penso que etnia, idioma e similitude de propósitos são os pilares que nos põem no mesmo bloco.

Por isso, emocionei-me com a homenagem que se prestava ao nosso Déda, que estava completando meio século naquele ano de 2010. Que beleza! Nessa fase da vida, o alemão Bach já havia formatado a Arte da fuga e escrito seus mais importantes trabalhos, a exemplo de O cravo bem temperado e da Paixão segundo São Mateus. Quando Bach tinha cinquenta anos, adveio-lhe o filho caçula, que acabou por seguir carreira idêntica à do pai. Naquele dia de festa, 11 de março, nasceu Astor Piazzolla, que, aos cinquenta anos, já produzira seus mais reluzentes tangos (as obras-primas Adiós Nonino e Libertango). Pois é, com apenas cinquenta anos, Déda, artífice da palavra, estilista no trato com a administração pública e regente singular do Estado, já tinha sido, na política, quase tudo que se possa conseguir galgar.

No executivo, só não ocupou a presidência da república, mas foi prefeito da capital de seu Estado (Aracaju), por duas vezes (eleito pela primeira vez aos quarenta anos), e governador de Sergipe, também duas vezes (sempre vencendo no primeiro turno). Já no legislativo, apenas não ocupou uma cadeira de vereador e outra de senador. Mas foi, com menos de trinta anos (em 1986), o deputado estadual mais votado do pleito. Com menos de trinta e cinco anos (1994), elegeu-se deputado federal, com a maior votação do Estado, reelegendo-se em 1998. Para mim, todavia, dois anos, em especial, são marcantes: 1977 e 2000. Em 77, vi, pela primeira vez, o imberbe Déda num curso de cinema no Atheneu, como dito acima. Na época, eu era presidente do Clube de Cinema de Sergipe. Juntamente com barbudos e velhos comunistas, exibi, malgrado percalços e riscos, o “Encouraçado Potemkin”, de Serguey Eisenstein. Com efeito, os riscos advinham do fato de a obra de Eisenstein expor a ditadura do czar. E nós vivíamos uma ditadura. No ano anterior (1976), por exemplo, desencadeara-se a “Operação Cajueiro”, na qual ilustres sergipanos foram presos pelo regime de exceção. Mas o jovem e denodado Déda estava lá, como que, encouraçadamente, peitando a ditadura. Os anos se passaram. Cheguemos, então (e sem rodeios), a 2000. Estava eu (com um pouco mais de cinquenta anos), na sacada do meu escritório, na Rua Laranjeiras, edifício Aliança, nas adjacências da agência central da ECT, observando a passeata da virada de Déda. Era a eleição para a prefeitura de Aracaju. Ele começara atrás nas pesquisas, mas, crescendo a cada dia, tomou a dianteira e disparou (venceria com quase 53% dos votos válidos). De cima do trio-elétrico em que conclamava a multidão, Déda viu-me e, olhando-me nos olhos, gritou, para todos ouvirem: “Clóvis Barbosa, seu lugar é aqui. Do nosso lado. Saia daí. Eu conheço sua história”. Ri com o gesto, acenei e agradeci. Depois, entrei e chorei. Nada demais. Jesus também chorou.

Dois ou três anos depois, lá estava eu, procurador-geral do prefeito Marcelo Déda, aquele mesmo menino de dezessete anos. Agora, timoneiro de um novo encouraçado. De lá para cá, sempre estivemos juntos. Sim, e o porquê dessa amizade? Respondo. Sou de Estância. Mas meu pai era de Simão Dias, terra de Déda. Além disso, por ter sido do partidão (PCB), do antigo MDB e do PT (nos primórdios), minha linguagem política, assim como a de Déda, está ligada ao trabalhismo (este é o idioma que falamos, o idioma dos trabalhadores, o idioma da esquerda, marcadamente da latino-americana). Nosso propósito ideológico, ademais, é o mesmo: construir uma sociedade mais justa, onde a força do trabalho supere a exploração do sangue e do suor do operário. Vejam, pois, que eu e Déda compartilhávamos da etnia, do idioma e dos propósitos. Daí, meu orgulho por ter, de alguma forma, inspirado o jovem que se tornou meu ídolo.

Déda via o mundo pelos olhos do povo. Era um agente de transformação social. Ele tinha o arquétipo do político ideal: aquele que detém a magia de transformar derrotas em vitórias e vitórias em conquistas ainda mais memoráveis. Diferentemente do político estúpido, cuja débil ossatura só é capaz de projetar a engenharia do caos. Quando vencedor, transforma a vitória em derrota; quando derrotado, transforma a perda em sepultamento. O estúpido, na política, não morre inúmeras vezes. Morre apenas uma. A morte política, entretanto, depende mais da perspectiva do derrotado, do que do tratamento que lhe é conferido pelo vencedor. Daí, a necessidade de encarar cada batalha apenas como uma fase do longo processo que é a biografia política. Veja-se, por exemplo, a biografia política do jovem Marcelo Déda. Perdeu algumas batalhas? Sim. Mas por que transpira um ar como que de invencibilidade? Porque digeriu as derrotas, capitalizando-as, a fim de, mais tarde, lucrar com elas.

Mas, e o vazio que a ausência de Déda vai deixar em todos nós? Dizem que saudade é a sétima palavra de mais difícil tradução e, também, de difícil conceituação. O que é saudade? Neruda dizia que saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida. O nosso menino Déda foi embora precocemente sob os aplausos do povo e o adeus dos seus amigos e familiares. Mas ele vai voltar. Agora, com as suas cinzas renascendo no Parque da Sementeira em forma de árvore.


*Clóvis Barbosa escreve quinzenalmente aos domingos. 


- Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju-SE, edição de domingo e segunda-feira, 8 e 9 de dezembro de 2013, Caderno A-7.

- Postado no Blog Primeira Mão no domingo, 8 de dezembro de 2013, às 17h14min, sítio: