quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um pouco de (descontraída) história

O nosso Estado ainda nos lembra, um pouco, Sergipe D’el Rei, de um passado não muito remoto. Daqueles tempos em que era província, cheia de vilas e aldeias. É certo que São Cristóvão aumentou umas três ruas de casas, a Ilha(?) de Santa Luzia passou a ser conhecida como Barra dos Coqueiros, praticamente tornando-se um dos bairros da capital e a Ponte do Imperador já está superada pelas outras maiores e mais vistosas. Só podia ser assim, já que a Ponte do Imperador não leva a lugar nenhum. Só serviu para o rei Dom Pedro II aportar na terrinha. Por debaixo dela não passa nem barco de brinquedo. Mas ela ainda está lá, insistente, defronte da Praça dos Três Poderes. Simbolizando a supremacia do rei sobre estes. Tanto que atualmente “base governamental” do rei  mudou-se do palácio de lá para não se misturar muito. É melhor ser amigo do rei que do resto do mundo, diria meu amigo detentor de um currículo contendo cinco cargos de primeiro e segundo escalões de relativa importância, um mandato eletivo de vereador, três gordas aposentadorias e um diploma universitário de um curso inútil. Quando ele me encontrava, sempre falava: “É um prazer o vê-lo.” Eu nunca pude corrigi-lo, afinal eu não ocupei seis cargos públicos e nem tenho um garboso diploma (ainda que inútil). O “beco dos cocos” mudou para  beco dos cocos com acento circunflexo no segundo “o”. O rio Sergipe foi vitalizado com dejetos humanos. As aldeias de barro e tábua deixaram de espalhar-se pelo interior e evoluíram para a capital, instalando-se pela periferia de Santo Antônio de Aracaju. A carroça e o bonde evoluíram para os ônibus: têm velocidade de bonde turbinado e sensação de carroça com janelas. Os políticos evoluíram também, rasparam os bigodes. Em Itabaiana deixou de se matar com bacamarte e pistola de dois tiros, agora se mata com pistola de trinta. Pistoleiro passou a chamar-se matador “profissional” e prostituta “garota de programa”. Passamos a ter um parque recreativo no “Morro do Urubu”, residências na “Baixa da Cachorrinha”, no “Lamarão”, no “Goré”, na “Ponta da Asa”, no “Alto da jaqueira”, no “Coqueiral”, na “Piabeta”. Nossos candidatos mudaram de Ernesto de Francisco de Chico e similares para “Rola”, “Xana”, “Colesterol”. A Praia Formosa, ou 13 de Julho, não existe mais, foi tragada pelo progresso. A “chefatura” de Polícia não se acha mais, nem os arvoredos da cidade. Acabaram-se os coronéis que manipulavam o poder, surgiram os “protetores do povo”. Todos os antigos cinemas foram extintos e juntaram as lojas numa gaiola de gente com um nome estrangeiro (xópin) pra gente ir ciscar lá por dentro. O meu balneário proibido da infância, as salinas do Grageru, aterradas, tornaram-se o bairro Jardins. Botaram a classe emergente para morar em cima da lama e nem flores plantaram lá. As antigas “quengas” agora são “periguetes” e os “frescos” são as “barbies”. Atualmente, quando anoitece, os adultos se escondem enquanto os novos vão pra rua perambular e fazer peraltices modernas. A preferência pelo craque do futebol foi superada pela paixão pelo crack da alucinação. Alagoano deixou de enfiar a faca no "bucho" dos sergipanos e a terrinha deixou de ser o quintal da Bahia para ser a casa de veraneio dos baianos e playground para as moças e rapazes de lá que vêm aqui em busca do canudo e de diversão...

Autor: Alberto Magalhães

Um comentário:

  1. Sobre essa história de 'ser quintal' da Bahia eu ouvi de um próprio sergipano ao meu lado quando disse que o relevo baiano não diferia muito do de Sergipe visto do alto. Mas aí depende, pela simbologia um quintal é a parte mais agradável da casa, tem árvores, tranquilidade, dependendo claro de quem é dono e de quem é a visita. Armando Nogueira disse que 'a Bahia é o Brasil levado às últimas conseqüências', talvez daí o desejo do baiano de sair desse clima de vez em quando, hehehe.

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