É
alinhado ao pensamento social preponderante, escudeiro das opiniões
dominantes. Inimigo dos divergentes... é
assim porque vê os ideais como uma quimera dos homens românticos,
delirantes ou sem o juízo perfeito.
Está claro que nenhum homem é excepcional em tudo, sequer na maioria das coisas que se propõe a fazer, no entanto parte da humanidade tende a ser comum demais, se inserindo na mediocridade. E o homem medíocre é, de alguma forma, nocivo à humanidade, quanto ao aprimoramento desta. Por outro lado o homem excepcional não o é simplesmente no que faz ou propõe a que seja feito, mas na sua essência desenvolvedora de pujante e justificada inquietação com as coisas estabelecidas, ele é naturalmente idealista. Esse é o pensamento de José Ingenieros (1887-1925), na sua obra O Homem Medíocre. Nesse ensaio filosófico Ingenieros retrata o homem comum, que representa parte da humanidade, como alguém que tem uma arraigada mesquinharia no pensar e no agir. Ingenieros nos faz entender que o homem comum tem uma lógica pertinente aos seus interesses pragmáticos e prementes, ignorando completamente as outras áreas complementares à sua relevante existência, à supremacia de seu pensamento original.
Na sua concepção o homem idealista honra a humanidade quando na sua irresignação com o que se pratica e se conhece e com a sua busca por mais outros conhecimentos e caminhos. Já o homem de espírito medíocre trata a humanidade como um parasita social, que se alimenta dos restos deixados, num ethos distorcido, estagnador. Para Ingenieros o medíocre é imitativo, afeito aos costumes retrógrados, servil ao sistema vigente, indiferente às mudanças de paradigmas, reacionário aos idealistas. Não gostam de destoar da massa e por ela aprovam só o que é de senso comum, mesmo que não tenha sentido ou que seja confrontado com a verdade, verdade que encampa o pensamento, a liberdade e a justiça plenos. É um Maria-vai-com-as-outras-vulgares. Despreza o voar nos ventos da liberdade, preferindo permanecer no limo pegajoso da continuidade e da hipocrisia, por fazer das conveniências pessoais imediatas sua prioridade absoluta.
Assim Ingenieros descreve o medíocre: “Ignoram o sonho do sábio e a paixão do apóstolo/São incapazes de virtude; ou não a concebem, ou ela lhes exige demasiado esforço/incapazes de desencadear indignação, diante de uma ofensa/Não vivem a sua vida para si mesmos, senão para o fantasma que projetam na opinião dos seus semelhantes/Trocam a sua honra por uma prebenda/Poder-se-ia dizer que mancham a reputação alheia para diminuir o contraste com a sua própria/Seu cérebro e seu coração estão entorpecidos igualmente. Como polos de um imã gasto.” Ele não é um gênio, mas está longe de ser um imbecil. Ele é apenas um ser acomodado às suas conveniências pessoais, à sua individualidade. Ele não pensa no todo, e ao se adequar ao coletivo o faz para usar a relação com a coletividade apenas para proveito próprio. Limita-se ao progresso material. É averso a heróis reais e os despreza ou reprime por despeito ou inveja, já que por mais que procure chegar ao seu nível espiritual e desprendimento pessoal, nunca o alcança. O seu preconceito é herança de conceitos engessados pelas mentes obtusas. São seres sem nome, sem paixão, sem virtudes. A igualdade é a sua meta, não a liberdade. Mas a igualdade moral, intelectual, espiritual dos medíocres. É alinhado ao pensamento social preponderante, escudeiro das opiniões dominantes. Inimigo dos divergentes.
O homem medíocre é assim porque vê os ideais como uma quimera dos homens românticos, delirantes ou sem o juízo perfeito. Para Ingenieros o ideal não pode ser definido em rótulos, em conceitos humanos porque é algo transcendente e permanentemente evolutivo para a humanidade. O verdadeiro idealista está sempre à busca de algo que ainda “vem a ser”, inspirado sempre a partir de “uma realidade imperfeita”. Ingenieros nos ensina que a concepção do homem excepcional e do medíocre são dois mundos morais distintos e antagônicos: “Seres desiguais não podem pensar da mesma forma. Sempre haverá evidente contraste entre o servilismo e a dignidade, a torpeza e o gênio, a hipocrisia e a virtude. A imaginação dará a alguns o impulso original até a perfeição; a imitação organizará em outros, os hábitos coletivos. Sempre haverá, forçosamente, idealistas e medíocres”. São estes, nas suas próprias palavras, homens e sombras. Na sua visão os idealistas não suportam a ideia de serem tratados como iguais aos meramente pragmáticos, nivelando-os aos medíocres. No entanto Ingenieros insinua que ao final esses dois grupos se complementam na evolução da espécie humana, mesmo que penosamente: “O progresso humano é o resultado desse contraste entre a massa inerte e a energia propulsora”. A tábua firme do conservadorismo é a base sólida para a incursão dos progressistas, matéria prima para os excepcionais, referência para os gênios.
Alberto Magalhães é servidor público estadual/SE
Está claro que nenhum homem é excepcional em tudo, sequer na maioria das coisas que se propõe a fazer, no entanto parte da humanidade tende a ser comum demais, se inserindo na mediocridade. E o homem medíocre é, de alguma forma, nocivo à humanidade, quanto ao aprimoramento desta. Por outro lado o homem excepcional não o é simplesmente no que faz ou propõe a que seja feito, mas na sua essência desenvolvedora de pujante e justificada inquietação com as coisas estabelecidas, ele é naturalmente idealista. Esse é o pensamento de José Ingenieros (1887-1925), na sua obra O Homem Medíocre. Nesse ensaio filosófico Ingenieros retrata o homem comum, que representa parte da humanidade, como alguém que tem uma arraigada mesquinharia no pensar e no agir. Ingenieros nos faz entender que o homem comum tem uma lógica pertinente aos seus interesses pragmáticos e prementes, ignorando completamente as outras áreas complementares à sua relevante existência, à supremacia de seu pensamento original.
Na sua concepção o homem idealista honra a humanidade quando na sua irresignação com o que se pratica e se conhece e com a sua busca por mais outros conhecimentos e caminhos. Já o homem de espírito medíocre trata a humanidade como um parasita social, que se alimenta dos restos deixados, num ethos distorcido, estagnador. Para Ingenieros o medíocre é imitativo, afeito aos costumes retrógrados, servil ao sistema vigente, indiferente às mudanças de paradigmas, reacionário aos idealistas. Não gostam de destoar da massa e por ela aprovam só o que é de senso comum, mesmo que não tenha sentido ou que seja confrontado com a verdade, verdade que encampa o pensamento, a liberdade e a justiça plenos. É um Maria-vai-com-as-outras-vulgares. Despreza o voar nos ventos da liberdade, preferindo permanecer no limo pegajoso da continuidade e da hipocrisia, por fazer das conveniências pessoais imediatas sua prioridade absoluta.
Assim Ingenieros descreve o medíocre: “Ignoram o sonho do sábio e a paixão do apóstolo/São incapazes de virtude; ou não a concebem, ou ela lhes exige demasiado esforço/incapazes de desencadear indignação, diante de uma ofensa/Não vivem a sua vida para si mesmos, senão para o fantasma que projetam na opinião dos seus semelhantes/Trocam a sua honra por uma prebenda/Poder-se-ia dizer que mancham a reputação alheia para diminuir o contraste com a sua própria/Seu cérebro e seu coração estão entorpecidos igualmente. Como polos de um imã gasto.” Ele não é um gênio, mas está longe de ser um imbecil. Ele é apenas um ser acomodado às suas conveniências pessoais, à sua individualidade. Ele não pensa no todo, e ao se adequar ao coletivo o faz para usar a relação com a coletividade apenas para proveito próprio. Limita-se ao progresso material. É averso a heróis reais e os despreza ou reprime por despeito ou inveja, já que por mais que procure chegar ao seu nível espiritual e desprendimento pessoal, nunca o alcança. O seu preconceito é herança de conceitos engessados pelas mentes obtusas. São seres sem nome, sem paixão, sem virtudes. A igualdade é a sua meta, não a liberdade. Mas a igualdade moral, intelectual, espiritual dos medíocres. É alinhado ao pensamento social preponderante, escudeiro das opiniões dominantes. Inimigo dos divergentes.
O homem medíocre é assim porque vê os ideais como uma quimera dos homens românticos, delirantes ou sem o juízo perfeito. Para Ingenieros o ideal não pode ser definido em rótulos, em conceitos humanos porque é algo transcendente e permanentemente evolutivo para a humanidade. O verdadeiro idealista está sempre à busca de algo que ainda “vem a ser”, inspirado sempre a partir de “uma realidade imperfeita”. Ingenieros nos ensina que a concepção do homem excepcional e do medíocre são dois mundos morais distintos e antagônicos: “Seres desiguais não podem pensar da mesma forma. Sempre haverá evidente contraste entre o servilismo e a dignidade, a torpeza e o gênio, a hipocrisia e a virtude. A imaginação dará a alguns o impulso original até a perfeição; a imitação organizará em outros, os hábitos coletivos. Sempre haverá, forçosamente, idealistas e medíocres”. São estes, nas suas próprias palavras, homens e sombras. Na sua visão os idealistas não suportam a ideia de serem tratados como iguais aos meramente pragmáticos, nivelando-os aos medíocres. No entanto Ingenieros insinua que ao final esses dois grupos se complementam na evolução da espécie humana, mesmo que penosamente: “O progresso humano é o resultado desse contraste entre a massa inerte e a energia propulsora”. A tábua firme do conservadorismo é a base sólida para a incursão dos progressistas, matéria prima para os excepcionais, referência para os gênios.
Alberto Magalhães é servidor público estadual/SE