Quando eu vi a seleção
brasileira receber sete gols da Alemanha (eu não vi o último gol, do Brasil,
porque saí), eu perguntei a mim mesmo, enquanto andava pela minha rua
silenciosa: “Porque o Brasil não dá certo?” Ora, o país tinha acabado de gastar
bilhões de reais com a construção de arenas esportivas e o plantel canarinho
era dos melhores. E recebeu uma goleada humilhante daquelas, em casa. Um, dois,
três, quatro, cinco, seis, sete gols. A zero. Isso eu constatei com esses olhos
estupefatos. O que veio depois não importa mais para mim, eu nem sequer vi. O
que ficou gravado foi o que os meus olhos viram. Lembrei-me de Aírton Sena, o
nosso campeão imbatível nas pistas, e a sua morte precoce. Lembrei-me do nosso
ídolo mundial Pelé e a indignidade que ele praticou contra a sua filha,
rejeitada por ele até a hora da sua morte (para que serviria os nossos heróis
se não fosse para nos fazer melhores?). Roberto Carlos, que tão bem canta o
amor, não é feliz nele. Fernando Collor, “o caçador de marajás”, o primeiro
presidente eleito depois de duas décadas do regime de exceção, e o confisco da
poupança dos trabalhadores brasileiros pelo seu governo demente e, depois, o
impeachment. A fatalidade acontecida com Tancredo Neves, símbolo da
redemocratização brasileira. A fatalidade com o nosso Sérgio Vieira de Melo,
Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, benfeitor da
humanidade e forte candidato à Secretário-Geral, morto num atentado com um
caminhão-bomba na sede da ONU em Bagdá. A sempre frustrante expectativa da
Igreja Católica brasileira em ver um cardeal brasileiro dirigir o Vaticano. A
vitrine brasileira, Rio de janeiro, a cidade maravilhosa, submergida na guerra
causada pelas drogas. A Amazônia arrasada pelos mercenários. O Rio São
Francisco explorado e abandonado. A proposta do brilhante pensador e educador
Paulo Freira relegada ao esquecimento. A nossa música entrou em estado de
letargia. A boa música parou nos anos oitenta do século passado. A
espontaneidade da vida social ficou prejudicada pela alta criminalidade urbana.
O espírito de felicidade ingênua deu lugar a realidade. Políticos em baixa. Não
há no cenário nacional mais lideres, pelo menos não há quem preste para ser
exemplo, modelo para os mais novos. Nossa juventude, outrora futuro brilhante
da nação, mergulhada na mediocridade atual, seduzidos pela vulgaridade e baixa
qualidade predominantes na moda, na música e em outros segmentos
sociais. Essa geração não produz pessoas como Anita Garibaldi,
Tiradentes, Deodoro da Fonseca, Zumbi dos Palmares, Princesa Isabel, Ruy
Barbosa, Cora Coralina, Sílvio Santos, Chico Mendes... O sonho acabou. Ao menos
social e culturalmente. Mas, como disse algum romântico pensador, a
esperança não morre. Os sonhos podem renascer das cinzas, como uma fênix tupiniquim.
“Lutar é
andar sobre pedras. Quem abre caminhos corre os riscos das cobras. Mas é aos
pés dos que vão à frente que as borboletas se levantam”. Juscelino Kubitschek
Alberto Magalhães