domingo, 3 de setembro de 2017

O país que não deu certo



Quando eu vi a seleção brasileira receber sete gols da Alemanha (eu não vi o último gol, do Brasil, porque saí), eu perguntei a mim mesmo, enquanto andava pela minha rua silenciosa: “Porque o Brasil não dá certo?” Ora, o país tinha acabado de gastar bilhões de reais com a construção de arenas esportivas e o plantel canarinho era dos melhores. E recebeu uma goleada humilhante daquelas, em casa. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete gols. A zero. Isso eu constatei com esses olhos estupefatos. O que veio depois não importa mais para mim, eu nem sequer vi. O que ficou gravado foi o que os meus olhos viram. Lembrei-me de Aírton Sena, o nosso campeão imbatível nas pistas, e a sua morte precoce. Lembrei-me do nosso ídolo mundial Pelé e a indignidade que ele praticou contra a sua filha, rejeitada por ele até a hora da sua morte (para que serviria os nossos heróis se não fosse para nos fazer melhores?). Roberto Carlos, que tão bem canta o amor, não é feliz nele. Fernando Collor, “o caçador de marajás”, o primeiro presidente eleito depois de duas décadas do regime de exceção, e o confisco da poupança dos trabalhadores brasileiros pelo seu governo demente e, depois, o impeachment. A fatalidade acontecida com Tancredo Neves, símbolo da redemocratização brasileira. A fatalidade com o nosso Sérgio Vieira de Melo, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, benfeitor da humanidade e forte candidato à Secretário-Geral, morto num atentado com um caminhão-bomba na sede da ONU em Bagdá. A sempre frustrante expectativa da Igreja Católica brasileira em ver um cardeal brasileiro dirigir o Vaticano. A vitrine brasileira, Rio de janeiro, a cidade maravilhosa, submergida na guerra causada pelas drogas. A Amazônia arrasada pelos mercenários. O Rio São Francisco explorado e abandonado. A proposta do brilhante pensador e educador Paulo Freira relegada ao esquecimento. A nossa música entrou em estado de letargia. A boa música parou nos anos oitenta do século passado. A espontaneidade da vida social ficou prejudicada pela alta criminalidade urbana. O espírito de felicidade ingênua deu lugar a realidade. Políticos em baixa. Não há no cenário nacional mais lideres, pelo menos não há quem preste para ser exemplo, modelo para os mais novos. Nossa juventude, outrora futuro brilhante da nação, mergulhada na mediocridade atual, seduzidos pela vulgaridade e baixa qualidade predominantes na moda, na música e em outros segmentos sociais. Essa geração não produz pessoas como Anita Garibaldi, Tiradentes, Deodoro da Fonseca, Zumbi dos Palmares, Princesa Isabel, Ruy Barbosa, Cora Coralina, Sílvio Santos, Chico Mendes... O sonho acabou. Ao menos social e culturalmente. Mas, como disse algum romântico pensador, a esperança não morre. Os sonhos podem renascer das cinzas, como uma fênix tupiniquim.

Lutar é andar sobre pedras. Quem abre caminhos corre os riscos das cobras. Mas é aos pés dos que vão à frente que as borboletas se levantam”. Juscelino Kubitschek

Alberto Magalhães

A justiça e Nietzsche



Justiça não é só um conceito abstrato que norteia a religião, a moral, a ética e o direito. Justiça é princípio soberano nas relações interpessoais e sociais, em verdade, universais. Justiça genuína tem sintonia com a liberdade, a razoabilidade, a impessoalidade. Ela precede à religião, à moral, à legalidade e ao Estado Democrático de Direito. Estes segmentos a buscam, no entanto só a apreendem em parte. A questão que dificulta o entendimento dessa constatação é que a compreensão de justiça é permeada por uma visão própria desse conceito, que, por vezes, sofre influência de culturas, épocas, de interesses pessoais ou de convicções religiosas ou filosóficas. Também, Justiça não é algo imbuído de bondade, necessariamente. Se o policial prende um malfeitor em ato de flagrante delito não proporciona algo de bom para o delinquente punido. No entanto lhe fez justiça, já que injustiça seria lhe prender sem que ele houvesse dado fundamento para a ação coercitiva.

A justiça original vive na efetiva liberdade, a justiça derivada subsiste na imposição. Justiça original se impõe, não é imposta pelo homem. Exemplo é a velhice do corpo físico, após os anos que se passaram. Outro é o desamor de quem foi continuamente maltratado por quem amava, ou o esgotamento dos recursos naturais pelo desgaste excessivo praticado pelo homem. A lei humana - bem como a divina, determinada aos homens - nasceu da necessidade de se fazer um esboço instrutivo normativo, para os “insensíveis” ou desinteressados, da justiça original, universal. A noção preponderante de justiça nas sociedades é baseada na posse, seja na área material ou na moral, a saber: nas infrações contra o patrimônio, integridade física, honra e imagem. A justiça original transcende esses elementos primários e projeta-se no espírito e em outras dimensões. Quando foram criados os preceitos na elaboração do direito consuetudinário ou normativo é porque já havia a existência dos princípios gerais do direito - conteúdo da justiça - no conhecimento inato humano.

A lídima justiça também não é realizada pelo homem. O ato de justiça praticado pelo homem é reflexo da justiça original, essência geradora, universal, impessoal da JUSTIÇA. Já a justiça perpetrada pelo homem tem a característica pessoal, individualista. Mesmo que em prol da coletividade. Justiça é ato de amor, não de bondade. Quando se castiga o filho pelo seu bem não se está sendo exatamente bom, mas justo. Embora essa justiça nasça do amor. Mas que amor é esse que se faz justiça contra quem se ama? Será esse o verdadeiro amor? A justiça pelo amor? Vingança decorre do desamor. E o que é o ódio a não ser a falta de amor? Seria, então, a vingança ato de injustiça? A injustiça pelo desamor? Pode ser essa a explicação para a nossa estada aqui nesse planeta, o sentido da vida terrena. Estaríamos na sala do aprendizado espiritual, laboratório das experiências metafísicas? O nosso professor seria o criador de toda essa engrenagem fascinante que nos desafia a evoluir sempre?

Nietzsche, que se mostrava ateu, disse que “é uma barbárie o amor a só uma pessoa, mesmo a Deus”. Se verdadeiro que o amor vem pela justiça, não seria justo que amássemos o pai da justiça, que nos alcançou por meio dela, não nos atingindo com a vingança do desamor? É notório que a nossa realidade é sedimentada na dualidade - que se afirmam, ou seja, uma revela a outra: vida, morte; luz, trevas; terra, água; matéria, espírito; saúde, doença; calor, frio; bem, mal... Sabemos que o corpo físico é regido pela mente, a família pelo pai, a sala de aula pelo professor, a escola pelo diretor, a cidade pelo prefeito, o estado pelo governador, o país pelo presidente, nosso sistema planetário pelo sol... numa cadeia que funciona em sintonia permanente. Não seria mais racional pensar que nesse sistema maravilhoso existe um condutor que o rege com maestria? E como a mente de um homem compreenderia um ser assim somente pelo pensamento? Mediante a observação e conjecturas? E como se pode provar a inexistência de algo que está fora do nosso alcance? De algo que não é visível, como pretendeu Nietzsche fazer?

Sempre será mais fácil se provar a existência do que existe e não é conhecido. O interessante é que a experiência espiritual é conhecida por muitos e é fervorosamente contestada pelos céticos que alegam influências meramente psíquicas para a explicarem. A lógica da razão jamais poderá explicar a fé ou anulá-la. Elas são dualidades que se afirmam e se completam. Mas isso para os bem intencionados. A humanidade traz consigo a dualidade de pertencer ao todo e de ser um. Individualidade versus coletividade. Individualidade com a sua liberdade de escolha e decisão - o chamado livre arbítrio - e a imensa solidão que a liberdade lhe traz, com as suas dúvidas atrozes. Nietzsche preferiu isso: a paz da negação de Deus à dúvida “incomodadora” da Sua existência, decorrente da oscilação da sua anterior e condicionada fé. Por isso ele se empenhava tanto em se convencer da tolice que era crer num ser superior e invisível aos nossos olhos. Morreu Nietzsche, em pouca idade, infeliz e doente.
Fonte de pesquisa: wikipedia.org

Alberto Magalhães